CRIANÇA INTERIOR, UM PROCESSO DE CURA! MUCIO MORAIS (Adaptado)


O conceito de "criança interior" é somente uma figura de linguagem, afinal já somos adultos, mas muitas vezes este conceito evoca reações mistas. Alguns podem vê-lo como uma ideia caprichosa reservada para a nostalgia da infância, enquanto outros o reconhecem como um reencontro, elemento profundo de cura psicológica. É exatamente o conceito de “elemento profundo” que nos apegaremos. Uma regressão consciente, revendo, revivendo, reavaliando, consertando, reescrevendo, mudando...

O trabalho da criança interior nos convida a nos reconectar com as partes mais jovens de nós mesmos que ainda influenciam nossos comportamentos, crenças e emoções. Essas partes não são apenas remanescentes de nosso passado, mas participantes ativos em nossas experiências presentes. Ao reconhecer e nutrir nossa criança interior, desbloqueamos caminhos para a cura e a autodescoberta.

O que é a Criança Interior?

A criança interior representa as versões mais jovens de nós mesmos que carregam as emoções, experiências e crenças formadas em nossos anos de formação. Essas partes encapsulam a alegria, a curiosidade e a diversão da infância, mas também podem conter a dor, o medo e as necessidades não atendidas daquela época. Essas primeiras experiências moldam como vemos a nós mesmos e ao mundo, muitas vezes operando abaixo de nossa consciência.

Quando as feridas não resolvidas da infância persistem, elas influenciam nossa vida adulta de maneiras que podem parecer inexplicáveis. Você já reagiu desproporcionalmente a um pequeno desentendimento ou sentiu uma sensação inexplicável de vergonha, ou inadequação? Essas reações podem resultar de uma criança interior não curada em busca de validação e cuidado.

A criança interior também nos conecta a versões de nós mesmos, moldados durante momentos cruciais em nossas vidas. Pense em você como uma boneca russa e as versões de você em diferentes pontos sendo armazenadas dentro do você adulto de hoje. Essas camadas representam as partes de nós que se adaptaram para se proteger contra danos, muitas vezes por meio de comportamentos como defensividade, evitação ou superação. Compreender essas camadas nos ajuda a nos aproximar com compaixão e integrar todas as partes de quem somos.

Os Sete Arquétipos (1) da Criança Interior

Esses arquétipos, inspirados em estruturas como as exploradas em “Como fazer o trabalho”, da psicóloga Nicole Le Pera, refletem padrões comuns moldados por experiências no início da vida:

1. O Zelador: Este arquétipo prioriza as necessidades dos outros sobre as suas, muitas vezes derivando autoestima do cuidado. Esse padrão pode resultar de experiências iniciais de assumir a responsabilidade pelos outros, muitas vezes às custas de receber amor incondicional.

2. O Superdotado: Impulsionado por uma necessidade implacável de desempenho e sucesso, esse arquétipo iguala merecimento a realizações. Uma infância marcada por altas expectativas pode criar essa narrativa interior.

3. O Fracassado: Temendo o fracasso e as críticas, esse arquétipo evita desafios, muitas vezes deixando o potencial inexplorado. A pressão esmagadora para alcançar resultados durante a infância pode promover essa mentalidade.

4. O Salvador/Protetor: Esse tipo busca controle e validação salvando os outros, muitas vezes supercompensando as primeiras experiências de desamparo.

5. A Vida da Festa: Mascarando a dor com humor e positividade, esse arquétipo aprendeu que expressar emoções difíceis levava à rejeição ou desaprovação.

6. A Pessoa Sim: Lutando para estabelecer limites, esse arquétipo prioriza agradar os outros, muitas vezes a um custo pessoal. A crença de que o amor deve ser conquistado por meio da conformidade muitas vezes sustenta esse comportamento.

7. O Adorador de Heróis: Buscando a validação de figuras admiradas, esse arquétipo muitas vezes parece indigno de aceitação. A dependência excessiva de cuidadores durante a infância pode contribuir para esse padrão.

Ao identificar quais arquétipos ressoam com você, você obtém uma compreensão mais clara dos comportamentos e crenças enraizados em sua criança interior. Também é importante reconhecer que a maioria das pessoas incorpora mais de um arquétipo, com certas características se tornando dominantes com base nas circunstâncias da vida.

Terapia de Trabalho em Partes: Apoiando a Cura da Criança Interior

O trabalho da criança interior geralmente se alinha com a terapia de trabalho parcial, que reconhece a natureza multifacetada do eu. Cada um de nós é composto de partes distintas, incluindo a criança ferida, o crítico protetor e o cuidador carinhoso. Essas partes se desenvolveram para nos ajudar a sobreviver e lidar com os desafios do passado, mas também podem criar conflitos internos.

Por exemplo, a parte protetora de você pode criticar ou suprimir as emoções de sua criança interior para evitar a vulnerabilidade. Outra parte pode buscar conexão e, ao mesmo tempo, temer a intimidade, refletindo a dor não resolvida da infância. A terapia de trabalho por partes oferece uma estrutura para explorar e reconciliar essas dinâmicas, criando espaço para que sua criança interior se sinta vista, segura e apoiada.

Ao abordar esses conflitos internos, você aprende a validar e abraçar sua criança interior, em vez de ignorar ou descartar suas necessidades. Esse processo de diálogo entre as partes promove um senso de harmonia e integração, tornando-se uma abordagem poderosa para a cura da criança interior.

Liberando os fardos da criança interior

Muitas das feridas mantidas por sua criança interior podem parecer dolorosas demais para enfrentar sozinhas, e é por isso que partes de você trabalham incansavelmente para se proteger contra elas. Essas partes protetoras não são adversárias; eles são aliados fazendo o possível para protegê-lo do desconforto. No entanto, suas estratégias, como evitação ou autocrítica, podem não servir mais para você.

Liberar os fardos de sua criança interior envolve entender esses mecanismos de proteção e criar um espaço seguro para sua criança interior expressar suas necessidades e emoções não atendidas. Através deste trabalho, você pode:

Reconheça as partes protetoras: Reconheça como elas o ajudaram a sobreviver a experiências difíceis.

Expresse gratidão: Agradeça a essas partes por seus esforços, mesmo quando você as convida a suavizar suas defesas.

Apoie sua criança interior: Com seu eu sábio e centrado no presente, conforte sua criança interior, oferecendo o amor, a validação e a proteção que ela não recebeu no passado.

Esse processo não apenas libera a dor emocional, mas também reconecta você com a alegria, a curiosidade e a criatividade de sua criança interior. Ao nutrir sua criança interior e convidar a cura, você permite que seu eu autêntico surja.

Passos práticos para o trabalho da criança interior

O trabalho da criança interior pode assumir muitas formas, desde o diário até meditações guiadas. Abaixo estão alguns passos para ajudá-lo a se conectar com sua criança interior:

1. Visualize sua criança interior: Imagine encontrar seu eu mais jovem em um espaço seguro e reconfortante. Como eles se parecem? Que emoções eles transmitem?

2. Valide seus sentimentos: Fale com sua criança interior com empatia, afirmando que suas emoções são válidas e que não são culpadas pelas dificuldades do passado.

3. Ofereça carinho: visualize fornecer à sua criança interior o cuidado, a proteção ou o amor que faltava. Isso pode envolver segurar a mão deles, falar palavras gentis ou criar um espaço seguro para eles.

4. Aborde as necessidades não atendidas: Reflita sobre o que sua criança interior precisava durante tempos difíceis. Imagine oferecer esse apoio agora como seu eu atual.

5. Escreva uma carta: Escreva uma carta para sua criança interior, expressando compreensão, amor e segurança.

6. Torne-se um viajante do tempo: revisite as memórias com a perspectiva do seu eu adulto. Imagine entrar nesses momentos, oferecendo cuidado, proteção e validação ao seu eu mais jovem. O que você percebe ao trazer cura para essas memórias?

7. Procure apoio profissional: Um terapeuta de trauma pode guiá-lo por camadas mais profundas e complexas do trabalho da criança interior, garantindo que você se sinta apoiado e seguro.

Autocompaixão e cura de traumas infantis

A dor do trauma relacional não resolvido da infância geralmente se apresenta como pensamentos autocríticos, sentindo-se intolerantes com nossos erros ou engajando-se em comportamentos de automutilação. A autocompaixão transforma a dor, permitindo-nos responder ao nosso sofrimento com calor e gentileza. 

A recuperação do trauma envolve duas ações principais:

Reduzindo a conversa interna negativa: Estabelecer limites para pensamentos e comportamentos autocríticos que perpetuam o dano.

Praticando comportamentos amorosos: Envolver-se em atos repetidos de bondade e cuidado consigo mesmo.

Quando nos conectamos com nossa criança interior, cultivamos os mesmos sentimentos carinhosos que os adultos amorosos oferecem às crianças. Essa experiência reparadora ajuda a criar uma sensação de segurança e resolução.

Uma jornada ao longo da vida

Curar a criança interior não é um evento único, mas uma prática contínua. Haverá momentos de progresso e momentos em que velhas feridas ressurgirão. Isso faz parte do processo. Cada passo que você dá aprofunda sua conexão consigo mesmo e abre caminho para uma vida mais autêntica e gratificante.

Ao abraçar sua criança interior com curiosidade, compaixão e coragem, você honra a resiliência dentro de você, essa jornada pode levar a uma transformação profunda.

Se você está pronto para explorar sua criança interior e embarcar em uma jornada de cura, considere trabalhar com um terapeuta de trauma. Juntos, vocês podem criar um espaço seguro para nutrir as partes feridas de si e abraçar a totalidade que sempre foi sua.

(1)     Arquétipo é um modelo original que serve como exemplo para algo do mesmo tipo. Pode ser um protótipo, um modelo ideal ou um padrão de comportamento.

           

ESCOLHENDO UM TREINAMENTO DE FORMA CONSISTENTE

ESCOLHENDO UM TREINAMENTO DE FORMA CONSISTENTE - (DICAS) Múcio Morais

O mercado empresarial passa hoje por um momento de conscientização, diversos conceitos estão perdendo, as mudanças vêm a reboque de fatores ...