RH - O que realmente estamos construindo?
Artigo do prof. Múcio Morais para
Seminário de RH na Business Press – São Paulo – Cedido à turma de RH (TCC) do
Centro Universitário Newton Paiva – Belo Horizonte – MG, voltado para discussão
de metodologias de gestão de pessoas. Publicado em 01/2013.
O Mundo virou uma verdadeira
loucura. Uma neurose coletiva em busca do homem perfeito, e perfeição se torna
um padrão baseado em comportamentos, conhecimentos, capacidades, habilidades,
resultados, posturas e outras encrencas mais.
Pegamos atitudes simples e as
teorizamos a ponto de sistematizar um simples “eu te amo”, somos escravos do
status cultural, aquele negócio de tornar o simples em complexo e falar de
arroz com feijão como se fosse caviar com champanhe francês. Quanta vaidade,
quanta besteira.
E o que nós estamos construindo
com isso?
Parece que nos esquecemos ou
preferimos ignorar à bem da manutenção da pose, que vem vindo constantemente
novos discípulos, aprendizes da vida que precisam entrar nessa roda da
sobrevivência. Gerações com espaço para aprendizado, com anseio de saber o que fazer
e para onde ir. Esses recebem toda essa carga de imposições
tecno-sub-statu-cultural (essa é uma das melhores palavras que já criei, que
beleza) e, sob a égide dos filósofos modernistas, segue em frente o gado novo,
marcado, feliz?
Pressionados, esmagados,
conduzidos, despersonalizados, angustiados, ansiosos, aflitos, submissos,
indecisos e gerados à partir do que se deve ser e não do que realmente se é
podendo ser melhorado. O ser humano não pode mais, segundo o comportamento
tecnológico atual, evoluir a partir de, mas construído a partir do e das.
Estamos construindo “criadores” e não “mentores” esse é, a meu ver, um dos
perigos mais sutis na formação das lideranças de RH e atividades afins.
Enquanto a vida vai pela estrada
e as chamadas novas tecnologias comportamentais interferem poderosamente no dia
a dia das pessoas dentro e fora das organizações, vamos assistindo a partida de
atitudes que até pouco tempo eram consideradas comuns, coisas como pensar
simples, o sim representando simplesmente sim e o não simplesmente o não. As
variáveis de cada tomada de decisão são tantas e exige um conhecimento teórico
tão grande que o óbvio se torna um exercício de experiência laboratorial
humana, geradora de expertise.
Será mesmo que toda essa
tecnologia comportamental está realmente ajudando o ser humano? Não seria um
caminho mais prático desenvolver essa tecnologia à partir do ser humano e não
simplesmente para ele? Seria um caminho inteligente focalizar nossos estudos
nas experiências mais primitivas do comportamento humano? Essas são questões
que, penso eu, podem contribuir para aqueles que definiram seu rumo no sentido
da gestão de pessoas. Um alerta. Um susto, quem sabe.
AS EXPERIÊNCIAS SE CONFUNDEM
Ganhei um novo celular da galera de casa, um presente legal, cheio de funções, botões pra todo lado, luzes que mudam de cor, músicas, gostei. Confesso que fiquei com dificuldade de saber onde atender as chamadas, ah sim, também é telefone, dá pra ligar para outras pessoas, legal. Decidi que seria melhor ler o manual, nunca imaginei ter que ler um manual para usar um telefone, confesso que sou meio atrapalhado com tecnologias.
Mas vamos lá: 106 páginas, fonte arial 6 (acho que o manual é
destinado a jovens com excelente visão), termos como led, GSM, menu (esse eu
sabia) e outros. Links para informações adicionais por toda parte, coisas como:
Após essa operação aperte a tecla tal, vide pag. 55. Ou acesse no site. Após 40
minutos de verdadeira batalha entre vá a pag X e volte a pagina Y, além de um
dicionário de Inglês que não me serviu muito, desisti. Preferi perguntar aos
meus filhos qual o procedimento para fazer e receber ligações, afinal é pra
isso que serve um telefone, ou não é?
UM SHOW DE HUMOR SEM GRAÇA
Descobri que eu sou um idiota, um
neandertal recém chegado ao mundo cibernético. A turma deu tanta risada que vou
até incluir uma parte disso em minhas palestras para jovens. O normal é ser
complicado. É ter a mente pronta para decifrar o complexo. É olhar para
emaranhados e saber as respostas por lógica sem nenhuma intuição.
Tudo que eu queria era uma página
com indicações, partido de como ligar o aparelho, passando por algumas etapas
operacionais ilustradas por bonequinhos e algumas setas. Nada além de uma
página ilustrada e com linguagem simples. Será tão complicado isso? E o custo?
E o nível de satisfação? E a praticidade? Duvido que a maioria das pessoas
saibam como funcionam todas aquelas funções, então porque elas estão lá? Eu sei
a resposta, você também, mas a resposta é tão ridícula quanto a questão.
GENTE VAMOS ACORDAR. O que
realmente estamos construindo?
Quanta complexidade, quanta
complicação. Vejo com urgência a instauração de um processo de simplificação da
vida, precisamos disso antes que nossa qualidade como gente se perca
irreversivelmente. E esse mundo sem gente parecendo com gente, seria terrível.
Se você vive em ambientes complexos, competitivos e sofisticados demais
certamente sabe do que estou falando.
Múcio Morais