FILHOS DO QUARTO - Adaptado por Múcio Morais


Antes, perdíamos nossos filhos nos quintais de casa, nos rios, nos matos, nos mares e até mesmo nas ruas, hoje temos perdido nossos filhos dentro do quarto. Quando brincavam nos quintais ouvíamos suas vozes, escutávamos suas fantasias, brincadeiras e opiniões. E ao ouvi-los, mesmo à distância, sabíamos o que se passava em suas mentes. Quando entravam em casa não existia uma TV em cada quarto e nem dispositivos eletrônicos em suas mãos com internet e um mundo virtual a ser devorado.

Havia um número imenso de dúvidas, as perguntas eram feitas quase que ao mesmo tempo, uma ansiedade por aprender, descobrir, tudo parecia estar envolto em mistérios, crianças e adolescentes ficavam ávidos por desvendá-los.

Hoje não escutamos as suas vozes, não ouvimos seus pensamentos e fantasias. Não ouvimos o que pensam, o que sentem, o que querem depois da escola. As crianças estão ali dentro de seus quartos, e por isso pensamos que elas estão “em segurança”. Mas que segurança temos na internet hoje?

Agora ficam com seus fones de ouvido, trancados em seus quartos cheios de tecnologia e seguras em seus mundinhos, construindo saberes sem que saibamos quais são. Não sabemos mais o que é importe para eles, o que pensam sobre a vida, os amigos da vida real, sobre o que querem fazer no futuro. Não sabemos sequer seus sentimentos e emoções, suas reações e vontades.

Os nossos filhos estão perdendo literalmente a vida, ainda vivos em seus corpos, mas mortos em seus relacionamentos com seus pais, fechados em um mundo global de informações e estímulos, de modismos passageiros, celebridades instantâneas que nada contribuem para a sua formação. Ao contrário, estão sendo formados para serem fracos, inseguros e dependentes, há tantas verdades que se torna quase impossível que aprendam a tomar decisões moralmente corretas e de acordo com seus valores pessoais e familiares.

As famílias de hoje estão se perdendo e perdendo a nova geração de filhos do quarto, pois os filhos do quarto não sabem mais quem são ou o que pensam suas famílias. Os valores familiares estão perdendo espaço para os valores globais, da coletividade individualmente vivida. Sendo assim, já estão mortos também em sua identidade familiar.

A nova geração dos filhos do quarto se torna uma mistura de tudo aquilo pelo qual são influenciados na internet, e nós pais nem sempre sabemos o que os filhos estão aprendendo nem o que eles são de fato hoje. Os pais não estranham esses comportamentos dos filhos porque a tecnologia conectada pela internet se tornou uma excelente babá eletrônica para acalmarem as crianças, mantê-las ocupadas e deixá-los dentro de casa, para  assim ficarmos tranquilos e seguros como bons pais  que somos. Mas, o inimigo agora mora no quarto de nossos filhos, acordam, passam os dias  e dorme com eles.

Estes dispositivos, desde jogos eletrônicos, laptops, computadores, smartfones, são, na visão deles, conselheiros e professores muitos melhores do que os que a vida lhes ofereceu originalmente, nenhum Pai, Mãe ou Professor sabe tanto quanto o Google, ou tem tanta velocidade para dar soluções e melhor ainda, sem envolvimento emocional, embates, discussões acaloradas ou confrontos de opiniões e valores. Na verdade os filhos do quarto se sentem confortáveis em seu estado quase letárgico, sem maiores esforços a vida rola simples, à um click de distância. E, quando fica chato, eles dormem.

Nós Pais, Professores e demais Profissionais ligados ao desenvolvimento das crianças e adolescentes temos visto muitas famílias doentes, sem entenderem porque os seus filhos estão tão distantes dos pais ou tão doentes emocionalmente. Temos visto crianças que se sentem abandonadas dentro de casa e que preferem não recorrer aos pais quando precisam de alguma coisa. Vemos muitas crianças deprimidas e ansiosas, se sentindo pouco amadas ou compradas.

Crianças e adolescentes que recorrem a violência quando incomodados em situações das mais simples, desaprenderam o diálogo e o equilíbrio, jovens arrogantes que pelo acesso a tantas informações se sentem sabedores de tudo um pouco, grupos de jovens que se metem em confusões pelo sentimento de pertencimento, já que não faço parte de “nada” então farei parte de “qualquer coisa”. O tempo está correndo, seus filhos em pouquíssimo tempo estarão por conta própria de verdade, e aí?

Quer ver uma transformação em seus filhos? Ou mesmo em seu casamento, família, relacionamentos? Quer mudar esse cenário em sua casa? Então, seguem algumas dicas, ou melhor, muito mais que dicas, seguem conselhos que o quanto antes forem seguidos, melhor:

1.     Brinque com seus filhos, de acordo com cada faixa, divirta-se com eles, escute as suas vozes, suas falas, seus pensamentos. Sinta a grande oportunidade de tê-los vivos em casa, por ter seus filhos “dando trabalho”, para que eles aprendam a viver em família, sentindo-se amados e pertencentes ao lar. E você saberá o que eles são de verdade, e eles poderão contar com você para o que precisarem.

2.  Tenha semanalmente um encontro marcado com a família, fiz isso por 20 anos com meus filhos e foi libertador, escolha um dia e chame de dia da família, faça algo especial para lanchar, escolha um tema e falem sobre isso, pode ser sobre um livro, um vídeo legal que apareceu na internet (algo que exalte a honestidade, o amor, a solidariedade ou mesmo um vídeo sobre a questão deste artigo etc.)

3.      Faça um painel em casa onde cada um terá que colocar um bilhete por semana para o outro, um recado, uma declaração de amor, uma piada engraçada, mas que seja endereçada a alguém especial na família, Pais, filhos, tios e avós (se forem presentes).

4.   Tenha lazer juntos em pelo menos dois finais de semana ao mês; ainda que seja em casa, procure fazer algo mais íntimo, apenas com os filhos;

5.   Assistam TV juntos, dobre-se aos gostos esquisitos e fique com eles, mesmo que seja vendo zumbis, bonecos Japoneses e estas coisas. Hahahaha

6.      Se vocês são religiosos e têm hábito de ler a Bíblia, escolha temas e histórias da Bíblia para discutir e tirar lições para a vida, peça ajuda do Padre ou líder de sua comunidade;

7.  Acampamento, saia de casa, compre uma barraca de Camping, leve sua família para um passeio diferente, Serra do Cipó, Caraça e outros;

8.      Faça visitas a cidades históricas, fale sobre a história e leve-os para ver de perto; Ouro Preto, Congonhas, Mariana, Tiradentes, São João del Rey, estou em Minas Gerais, mas se você não mora aqui, certamente existem lugares históricos em sua região, isso não é papel da escola em alguma excursão esporádica, é nosso trabalho.

9.    Dê responsabilidades aos seus filhos, coisas domésticas, mesmo que não gostem, nem tudo são flores, e eles precisam pegar em espinhos também;

10.   Conte sua história sem ser vítima, deixe-os perguntar e responda sem ser negativo,

11.   Apareça na escola de seus filhos, entre na escola, tome um café, ande na escola, conheça as pessoas, leve sugestões, ofereça-se para ajudar em algo.

12.   Dê a seus filhos a oportunidade de conhecer a religião, não estou falando das seitas loucas e sem fundamento que estão se multiplicando, falo de Igrejas e Instituições sérias, centenárias e que cultivam espiritualidade sem maluquices, abusos da ingenuidade alheia ou enriquecimento de seus líderes. Falo de coisa séria. Palpável. Que se pode acreditar.

13.   Ah sim, os dispositivos eletrônicos precisam de controle, coloque horários, inclusive para vocês Pais,

No início deste mutirão doméstico em favor de nossas famílias poderá parecer estranho, ganhar resistência e reclamações, mas entenda que se não tomarmos atitudes agora, amanhã será tarde demais.  

O amor então poderá fluir sem a interferência da tecnologia. Não precisamos dela para amarmos e muito menos para cuidarem de nossos filhos. Seja intenso, abandone a preguiça, “O MAIOR INIMIGO DA FELICIDADE, DO AMOR, DO SUCESO, DA EDUCAÇÃO... CHAMA-SE PREGUIÇA”, andamos tão cansados que mal conseguimos dormir, bobagem, quando temos algo de nosso interesse não existe preguiça ou cansaço que nos impeça, então, TRANFORME A EDUCAÇÃO E A LIBERTAÇÃO DE SEUS FILHOS COMO ALGO DE SEU INTERESSE, ame, conviva, viva, brinque, participe, deixa de preguiça e aprenda a se envolver e escutar!

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Texto original de Cassiana Tardivo - Psicopedagoga, adaptado pelo Professor Múcio Morais, o texto original está publicado em https://www.colegiorecanto.com/noticia/os-filhos-do-quarto-2

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