"A covardia da calúnia, que sentencia o inocente a pagar por um crime que não cometeu, é a mais devastadora das armas do ignorante. Ela estraga e emporcalha tudo que toca, além de enegrecer profundamente aquilo que não conseguir exterminar". (Ivan Teorilang)
Se você convive com uma pessoa caluniadora ou se você mesmo
é esta pessoa, quero te pedir atenção a este artigo: Teorilang chama a calúnia de
"covardia" já que geralmente a pessoa atacada não pode se defender em
tempo hábil ou mesmo se esquivar do estigma que lhe será "presenteado por
toda a vida". O caluniador normalmente ataca pelas costas, de forma sutil
e ardilosa, o interesse único é simplesmente destruir, colocando dúvidas sobre
a reputação do outro. Oportunista, vê em cada momento a chance de apresentar-se
como o "fiel da balança" emitindo suas opiniões e oferecendo fatos,
geralmente criados ou deturpados, para argumentar posições negativas sobre as
pessoas.
Um dos problemas mais sérios que envolve a calúnia é o fato
de que o caluniador apresenta-se de forma a parecer um mediador ou um
observador "justo" ao longo da vida, desenvolvendo frases, jargões e
comportamentos que produzem uma certa credibilidade e tolerância. Quero citar
sete desses comportamentos:
FALSA SENSIBILIZAÇÃO: Ao emitir uma determinada opinião ou
mesmo ao criar um fato, o faz demonstrando uma falsa sensibilização o que
disfarça bem as intenções ardilosas por traz da calúnia; É comum ao caluniador
ter expressões como:
"Puxa vida, ele precisa de apoio para se livrar desse
problema, lamentável, é uma ótima pessoa apesar de…”.
“Ele não precisava disso…”.
“Vamos orar por ele, acho que é o melhor caminho!” “Estou
chocado…”.
NEGAÇÃO DE AUTORIA: Esse comportamento consiste em atribuir
a "informação" a outros, geralmente sem citar a fonte por questões
"éticas". As expressões são mais ou menos essas:
“Sabe o que as pessoas andam falando?”
“Bom, é o que dizem por ai”.
“Contaram-me e estou passando exatamente…”.
“Todo mundo sabe disso…”.
FIRMAR POSIÇÕES: O Caluniador geralmente é alguém com
dificuldades de admitir seus erros, esta é uma das razões pelas quais procura
atribuir erros aos outros. Em nome de suas ideias, reputação e opiniões,
desfere golpes do tipo:
“Eu penso assim, mas se ele pensa diferente…”.
“Eu não faria isso, mas cada cabeça uma sentença”.
“Se ele prefere fazer assim, problema dele”.
FALSA SURPRESA: Certamente o maior esforço do caluniador é
desviar-se da origem da "calúnia" e para isso uma das ferramentas
mais eficazes é a "falsa surpresa", a expressão é alguma coisa como:
“Sério? Eu não imaginava que ele poderia fazer isso”.
“O que? Você está brincando! quem disse isso?”
“Não acredito, ele fez isso mesmo?”
“Conte-me isso detalhadamente, mal posso acreditar”.
FALSA MINIMIZAÇÃO: Assim como na falsa surpresa, o
caluniador busca conseguir alguma credibilidade colocando-se ao lado da vítima
ao minimizar as informações por ele criadas ou recebidas de outras fontes:
“Eu ouvi isso, mas não acredito que seja tanto assim!”
“Me disseram, mas não pode ser…”.
“Eu acho isso, mas devo estar errado”.
CONTAR COM A PREDISPOSIÇÃO HUMANA PARA RETER O MAL: O
caluniador transforma grandes mentiras em verdades incontestáveis, em fatos,
ainda que seja desmentida uma parte significativa dos ouvintes manterão a
posição "caluniadora" e muitas vezes formarão fileira na
continuidade. Como disse Willian Hazlitt: “A calúnia não exige provas”.
FALAR SEM PENSAR: A fala por impulso, sem filtro. A calúnia
pode vir também como um impulso da linguagem, esta prática é explicada por
alguns estudiosos que atribuem este comportamento a pessoas que têm um superego
enfraquecido e não conseguem trabalhar regras sociais, pessoas que não estão
com seu mundo interior ordenado, ignora seu superego (que normalmente funciona
como filtro dos impulsos do ID), nessa estrutura emocional as questões da vida
estão desorganizadas ou sem solução, o que provoca uma enorme pressão acionando
um mecanismo de defesa emocional que libera "as tais falácias ou falar sem
pensar" para que o indivíduo não se exploda.
O problema aqui é que em nome de uma liberação emocional se
coloca em xeque a vida e reputação de outras pessoas. Como disse Luigi
Pirandello, "Tem ideia de quanto mal nos fazemos por essa maldita
necessidade de falar?". Gosto muito também da frase do presidente
americano Woodrow Wilson: "Se eu for falar por dez minutos, eu preciso de
uma semana de preparação; se quinze minutos, três dias; se meia hora, dois
dias; se uma hora, estou pronto agora".
O PREÇO: Nenhum comportamento vem com "isenção de
IPI" (imposto sobre procedimento individual) para todo comportamento
existirá sempre uma resposta. Nem sempre aquela esperada, mas dentro da
normalidade ame e será amado, cuide e será cuidado, sirva e será servido,
critique e será criticado e assim por diante. O preço a pagar por uma vida de
calúnia não é barato, pessoas caluniadas sentem aversão e ódio dos seus
caluniadores; aqueles que fazem parte do círculo de relacionamento, mesmo que
não tenham sido vítimas tendem a desprezar e evitar o caluniador. A perda da
credibilidade é a mais dura pena. Imagine-se convivendo com o descrédito total,
a indiferença, sendo tolerado ao invés de acolhido? Esse é o IPI pago pelo
caluniador.
A CURA: Se você se encaixa nesse contexto, há algumas
decisões urgentes a tomar:
Aprenda a gostar de si mesmo, valorize-se, ame-se, tenha
orgulho de si mesmo, sua história não merece a macha da calúnia;
Assuma sua condição de caluniador, faça uma revisão de seu
comportamento, pense nas pessoas que você já prejudicou. As mentiras, as
verdades que não deveriam ser passadas a frente (um fato verdadeiro não
justifica a sua divulgação caluniosa), os amigos que você ajudou a separar pela
dúvida, os relacionamentos que você ajudou a esfriar pelo desencanto;
Decida desculpar-se com essas pessoas: "os
caluniados";
Decida consertar o que for possível desfazendo o que você
construiu (destruiu), desmentindo, procurando aqueles que receberam suas
"informações";
Assuma a autoria de tudo que falar daqui pra frente, você
vai ver como isso te ajudará a ser mais cuidadoso com as palavras;
Decida ser humilde, esteja pronto para mudar, pensar
diferente, dar crédito aos outros, cale-se um pouco, aprenda a ouvir e
valorizar os outros, isso vai te ajudar;
Abandone o cinismo, vigie-se.
Aprenda a elogiar e ver o bom em tudo. Decida e
transforme-se em uma pessoa "otimista, positiva e que acredita nas
pessoas" e perceba o valor do novo IPI na sua vida;
Não descarto a necessidade de pessoas que praticam a calúnia
necessitarem de cuidados terapêuticos urgentes. Os sintomas de distúrbios
psíquicos são muito claros, mas não gosto da linha que leva toda debilidade
humana para o campo médico. Vejo claramente aqui problemas sérios de caráter,
de modelos de comportamento, de decisões não ou mal tomadas, de escolhas, de
superficialidade e pobreza de espírito. Considero sempre o ser humano capaz de
fazer o auto diagnóstico e a partir de suas constatações caminhar rumo ao
desenvolvimento pessoal, buscando recursos em todas as instâncias possíveis,
inclusive médica, motivado pela percepção do preço pago por si mesmo e por
outros. A mudança pode acontecer!
Termino este texto citando Carlos Drummond de Andrade, em
seu poema Recomeçar:
“Não importa onde você parou, em que momento da vida você
cansou. O que importa é que sempre é possível e necessário recomeçar”.
Recomeçar é dar uma nova chance a si mesmo. É renovar as
esperanças na vida e o mais importante. Acreditar em você de novo.
(*) Este texto é
parte da Palestra do Prof. Múcio Morais "Chega, eu não me suporto
mais" voltada para comportamento e clima organizacional.
Espero ter ajudado.
Múcio Morais
Palestrante Motivacional e Consultor nas áreas de
Comportamento, Liderança, Marketing, Vendas, Gestão e Estratégias de Negócios;
Filósofo e especialista em programação neurolinguística utiliza-se de técnicas
de alto desempenho, didática simples e oratória de impacto, deixando marcas
profundas naqueles com os quais compartilha experiências.