Em tempos tão desafiadores para a educação global, mesclando pandemia, crise econômica, aumento na desigualdade social e mudanças profundas no mercado de trabalho, que práticas adotadas por países e suas escolas os ajudaram a melhorar o desempenho dos estudantes?
A OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico), entidade que aplica o exame internacional de educação Pisa (O Pisa
é uma metodologia internacional que avalia os sistemas de ensino em todo o
mundo, medindo o nível educacional de jovens de 15 anos por meio de provas de
leitura, matemática e ciências). O exame é realizado a cada três anos pela
OCDE., tentou traçar um panorama dessas práticas, a partir de comparações entre
o desempenho dos estudantes na prova de 2018 (a mais recente) e outros dados da
educação nos países.
OCDE
encontrou relação entre desempenho dos estudantes no Pisa e práticas do
cotidiano da escola
Também entram na conta as respostas dadas por alunos e
professores em um questionário aplicado simultaneamente ao Pisa, na busca de
práticas cotidianas e infraestrutura educacional que possa ter impacto direto
no bem-estar e no desempenho dos estudantes.
O resultado
foi apresentado em um relatório chamado”Políticas eficientes, escolas de sucesso”,
que analisa dados dos 79 países ou regiões avaliadas no Pisa - Brasil entre
eles.
Os dados do exame, divulgados em dezembro de 2019, mostraram
leve melhora do Brasil nas três competências avaliadas - leitura, matemática e
ciências -, mas ao nível considerado ” estacionado” e ainda longe do salto de qualidade necessário
para alcançar os países e regiões com as notas mais altas do Pisa, como cidades
chinesas, Cingapura e Canadá.
Segundo a OCDE, "políticas e práticas de gerenciamento
escolar têm um papel-chave em determinar como os sistemas educacionais
respondem aos desafios” dos tempos atuais, desde no agrupamento e seleção dos
estudantes até a quantidade de recursos investidos na educação.
A seguir, a BBC News Brasil lista, a partir do relatório,
práticas que a OCDE aponta como relevantes para o aprendizado dos alunos, com
aparente correlação com o desempenho deles no Pisa:
Corpo de funcionários da escola
DOS alunos brasileiros que participaram do Pisa em 2018,
cerca de Um terço está em escolas que, segundo seu diretor, tiveram o ensino de
alguma forma afetado negativamente pela escassez de funcionários (embora só
17,6% estivessem em escolas cujo ensino foi, na visão de diretores, afetado
pela escassez especificamente de professores).
É uma média semelhante à dos demais países da OCDE, mas com
aparente impacto negativo no desempenho dos alunos, diz a entidade.
"Mesmo após se levar em conta o perfil
socioeconômico de estudantes e escolas, em 17 países e economias, estudantes de
escolas com mais escassez de funcionários tiveram notas mais baixas (no
Pisa)", segundo o relatório.
O mesmo valeria para a escassez de recursos materiais: quanto maior essa escassez, maior a correlação com um desempenho pior no exame, mesmo quando se leva em conta a diferença socioeconômica entre as escolas.
Já o espaço físico adequado pode ter influências positivas: o relatório aponta que escolas que oferecem salas para as crianças fazerem lição de casa, tendo um ambiente adequado, têm um avanço significativo nos resultados. A aprendizagem, parece, estar de maneira decisiva influenciada pelo ambiente, e, em muitos casos, cabe a escola prover este espaço e estrutura necessária para seu funcionamento. (Múcio Morais, ata de relatório pag 206 - pees 2019). Neste processo foi apresentada a ideia do Prof. Múcio de fazer nas escolas um "cantinho do saber" onde crianças com pouca ou nenhuma estrutura socioeconômica possa ter suas atividades de casa, sendo oferecida alimentação e atenção especial de um docente devidamente preparado para esta atividade.
No Brasil, havia um computador para cada quatro alunos
dentro de sua escola, bem abaixo da média da OCDE (de um computador por
estudante).
E o dado também esconde disparidades: 68% dos estudantes
brasileiros de escolas em melhor situação econômica tinham acesso a
equipamentos tecnológicos suficientes. Mas só 10% dos alunos de escolas mais
pobres puderam dizer o mesmo.
No entanto, na média dos países medidos, o maior acesso à
tecnologia não se traduziu em melhores notas no Pisa. ”A descoberta indica que
é necessário mais do que prover tecnologia para obter resultados
melhores", diz o relatório, agregando que "disponibilizar aparelhos não
será útil, exceto se eles forem adequados às tarefas em questão”.
Mas a OCDE mediu também a capacidade de ensino remoto dos
países, algo que - embora a medição seja de 2018 e esteja, portanto,
desatualizada - se mostrou crucial para minimizar os efeitos da pandemia do
coronavírus sobre a educação.
No Brasil, apenas 26% dos estudantes estavam em escolas
cujos diretores disseram haver banda larga suficiente para suas necessidades em
2018. E só 35% estavam em escolas cujos diretores diziam ter, na época,
plataforma efetiva para o ensino online.
Desvantagens socioeconômicas
E a repetência, por sua vez, influência no desempenho:
"em todos os países e economias participantes (do Pisa), os que tinham
menores parcelas de estudantes repetentes apresentavam nota média maior em
leitura e mais equidade no desempenho em leitura, mesmo se levando em conta o
PIB per capita", diz o relatório.
"Claramente, todos os países têm estudantes excelentes,
mas poucos países capacitam seus estudantes a serem excelentes e alcançarem seu
potencial", prossegue o texto. "Alcançar mais equidade na educação não
é apenas um imperativo de justiça social, mas também uma forma de usar recursos
de modo mais eficiente, aumentando a oferta de habilidades para estimular o
crescimento econômico e promover a coesão social."
Ao mesmo tempo, diz a OCDE, países e economias tendem a ter
mais equidade na educação quando mantêm uma comunicação próxima com os pais dos
alunos, estão abertos ao feedback dos estudantes e fazem consultas constantes
sobre o que pode ser melhorado na escola ou nas políticas educacionais locais.
A combinação bem-sucedida das escolas de alta performance
Segundo a OCDE, o Pisa também mostra que, "em países e economias de alto desempenho (no exame), os que têm mais equidade na educação, uma combinação de autonomia às escolas e uma responsabilidade (accountability) mais centralizada trabalham em comum acordo para dar um apoio mais efetivo ao ensino e ao aprendizado.
No geral, aponta o relatório, "para os alunos com as habilidades e conhecimentos certos, a digitalização e a globalização têm sido empolgantes e libertadoras. Para os que não estão suficientemente preparados, essas tendências podem significar vulnerabilidade e insegurança profissional, e uma vida de poucas perspectivas. (...) A distribuição de conhecimento e de prosperidade é essencial, e só será possível pela distribuição de oportunidades de educação."
https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/bbc/2020/09/29/as-praticas-que-mais-ajudam-ou-atrapalham-o-brasil-na-educacao.htm
/ Análise de relatório da OCDE, caso tenha interesse solicite ao Professor
Múcio Morais pelo e-mail: muciomorais@gmail.com
Leia o Artigo “Gestão dinâmica da educação e sua eficácia no desenvolvimento global dos estudantes, de autoria do Professor Múcio Morais. (Clique Aqui)