A SUA INSIGNIFICÂNCIA "ÓBVIA" DEVERIA TE TRAZER GLÓRIA – MÚCIO MORAIS

                     No montão de pensamentos quase todos inconclusivos sobre a vida, percebo que a arrogância tem cada vez mais destacado o seu toque de insignificância e ignorância. Ser uma partícula invisível deveria trazer sobriedade a alguns seres. Ter uma influência ZERO no movimento do universo e das existências, deveria fazer alguns de nós, seres vaidosos, entender que nada e nós, são a mesma coisa. Isso mesmo NADA E NÓS é igual a isso mesmo, ZERO, por absoluta inexistência de uma representação de valor tão minúsculo. Então você e eu somos mesmo ZERO. Uma soma simples que é tão óbvia quanto nada.

A Filosofia tem emprestado caminhos desde Tales de Mileto, Heráclito, Parmênides, passando por  Sócrates, Platão, Aristóteles, René Descartes, Friedrich Nietzsche, Immanuel Kant e tantos outros, e mesmo nas inconclusas teses filosóficas existe o caminho óbvio da humildade. Mas que não é tão óbvio pelos que somente consideram o aparente, palpável e momentâneo, perdidos no agora e sem perspectivas temporais e da realidade. (*)Realidade (do latim realitas isto é, "coisa") significa em uso comum "tudo o que existe". Em seu sentido mais livre, o termo inclui tudo o que é, seja ou não perceptível, acessível ou entendido pela filosofia, ciência ou qualquer outro sistema de análise.

O real é comumente entendido como aquilo que existe fora da mente particular, mas também pode incluir, em certo sentido, a realidade interna que existe dentro da mente também. A ilusão, a imaginação, embora não esteja expressa na realidade tangível extra-mentis, existe ontologicamente, onticamente* (relativa ao ente — vide Heidegger in "Ser e tempo")*, ou seja: intra-mentis. E é portanto real, embora possa ser ou não ilusória. A ilusão quando existente, é real e verdadeira em si mesma. Ela não nega sua natureza. Ela diz sim a si mesma. A realidade interna ao ser, seu mundo das ideias, embora na qualidade de ens fictionis intra mentis (ipsis literis, in "Proslogion" de Anselmo de Aosta — argumento ontológico), ou seja, enquanto ente fictício, imaginário, idealizado no sentido de tornar-se ideia, e ser ideia, pode — ou não — ser existente e real também no mundo externo. O que não nega a realidade da sua existência enquanto ente imaginário, idealizado.

Quanto ao externo — o fato de poder ser percebido só pela mente — torna-se sinônimo de interpretação da realidade, de uma aproximação com a verdade. A relação íntima entre realidade e verdade, o modo em como a mente interpreta a realidade, é uma polêmica antiga. O problema, na cultura ocidental, surge com as teorias de Platão e Aristóteles sobre a natureza do real (o idealismo e o realismo). No cerne do problema está presente a questão da imagem (a representação sensível do objeto) e a da ideia (o sentido do objeto, a sua interpretação mental ).

Em senso comum, realidade significa o ajuste que fazemos entre a imagem e a ideia da coisa, entre verdade e verossimilhança. O problema da realidade é matéria presente em todas as ciências e, com particular importância, nas ciências que têm como objeto de estudo o próprio homem: a antropologia cultural e todas as que nela estão implicadas: a filosofia, a psicologia, a semiologia e muitas outras, além das técnicas e das artes visuais.

Na interpretação ou representação do real, (verdade subjetiva ou crença), a realidade está sujeita ao campo das escolhas, isto é, determinamos parte do que consideramos ser um fato, ato ou uma possibilidade, algo adquirido a partir dos sentidos e do conhecimento adquirido. Dessa forma, a construção das coisas e as nossas relações dependem de um intrincado contexto, que ao longo da existência cria a lente entre a aprendizagem e o desejo: o que vamos aceitar como real? Portanto a realidade é construída pelo sujeito cognoscente; ela não é dada pronta para ser descoberta.

A verdade (subjetiva) pode, às vezes, estar próxima da realidade, mas depende das situações, contextos, das premissas de pensamento, tendo de criar dúvidas reflexivas. Às vezes, aquilo o que observamos está preso a escolhas que são mais um conjunto de normas do que evidências. (**)

O Texto entre (*)>(**)é extraído da Wikipedia, no link: https://pt.wikipedia.org/wiki/Realidade

Entendendo-se por mísera nossa infeliz relação com o tempo /espaço, a ocorrência e o ocorrido, as crenças e a realidade subjetivas do eu e das coisas, é espantoso a ênfase que se coloca naquilo que aparentemente é temporal e ignora-se o caminho da espiritualidade, se chamarmos assim o intangível, parece-me que os milhares de anos em tentativas já deveria ter resinificado modelos e crenças, acrescentado assessórios muito mais eficazes, mas parece-me que a história remonta sociedades e gerações contaminadas por interesses menores do que as partículas que os carregam, antimatéria da escória humana, pobres pensadores do óbvio aparente, pobre mendigos do lixo ultrapassado, pobre cisco voando entre bilhões e bilhões de astros.

Parece-me que a incapacidade humana em enxergarem-se, nos coloca no campo imaginário do poder quase infinito, e, nesse campo, somos capazes de atrocidades tão variadas que a fusão com o lado negro, se é mesmo que podemos habitá-lo, é uma constatação óbvia.

Ser mais que um cisco voador é uma ambição inatingível dado à pequena, mínima, quase insignificante partícula do tempo que nos é atribuída, e ao mesmo tempo, uma oportunidade de nos colocarmos em nosso lugar, mesmo que seja somente nos lançando a grande aventura da humildade por ignorância,

Esta lasca do imaginário do universo, somente por si só já deveria trazer significado na insignificância humana. Produzir uma conformação sem conformismo, apenas uma acomodação no espaço onde um ninho da intelectualidade e espiritualidade possam se formar e causar alguma modelação de juízo.

Os grande que me perdoem, mas a consciência de nosso ser, ter e estar definidos no olhar infindável do intangível, é uma gloriosa descoberta de um ser inserido no processo de existência comum, e, traz um modelo de existência muito satisfatório, diria até mesmo espiritualizado, perceptivo, sensitivo, intransponível. É aí que encontro Deus. Mas este papo fica para outro artigo.

Carinho a todos os Ciscos;

Glória a todos que compreendem!

Múcio Morais

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