Moro em Belo Horizonte e sempre que precisei usar o sistema público, fui muito bem atendido. Logo corri para o Pronto Socorro do Hospital Risoleta Neves, chegando lá fui recebido por um jovem que me orientou a falar com a recepcionista e tirar uma senha de atendimento, fui até ela, li seu nome no Crachá e pedi orientação.
Magna, este é o nome, se informou do meu problema, tirou uma senha e com muita ternura e precisão explicou-me os próximos passos, de vez em quando ela dava um sinal de que estava chegando a minha vez, enquanto sorria e demonstrava carinho com os demais, rapidamente passei pelo guichê e logo para a triagem, onde também fui muito bem atendido e avaliado, com todo cuidado, por duas enfermeiras empáticas e interessadas, daí fui encaminhado a um serviço no próprio hospital chamado “Fast Truck” (Caminho Rápido), achei interessante o nome em Inglês, mas deu um certo charme, quem vai reclamar de ir a um lugar chamado “Fast Truck”?
Este é um serviço onde se tem um
clínico para atender a casos que são de menor gravidade, exames simples, consulta
e medicação serão suficientes e não se tumultua o espaço do Atendimento de Urgência e Emergência,
Magna me levou ao Fast Truck onde em alguns minutos uma jovem médica, Dra. Bárbara chamou-me e fez uma consulta perfeita, completou a anamnese feita pela equipe de triagem, mostrou dominar as questões importantes, foi cuidadosa e ética, mostrou respeito pela dor e desejo de ajudar a resolver, após a consulta ela me receitou alguns medicamentos e orientou algumas ações para melhorar, era uma distensão muscular em um local bem incômodo, enfim, fui encaminhado a um ambulatório e recebi a medicação que aliviou as dores.
No ambulatório o mesmo padrão de acolhimento e carinho, enfermeiras atenciosas e habilidosas, passando confiança com leveza, pessoas que gostam do que fazem e do ambiente onde trabalham, não precisam
ensaiar antes, a realidade é boa, e o hospital não vira um teatro com um show
de horror.
Aliviado e grato, segui para casa,
onde fui questionado por alguns amigos quando cheguei sobre não ter ido ao
convênio particular bla bla bla, a fama de atendimento ruim no serviço público ainda
ficará por uns tempos, foram anos de descaso, de gente mal amada e mal
humorada, anos de arrogância de uma geração médica onde o status era mais
importante do que a missão, foram muitos anos de preconceito, indiferença a
dor, relaxamento e desdém, muitos profissionais passavam a ideia de que o
cliente estava em débito, e que atende-los era um favor não um privilégio, muitos
anos de gente assim encarregados de cuidar da saúde de nossas famílias e amigos.
Hoje, pareceu-me muito óbvio a
preocupação de enviar ao médico um paciente “tratável”, isso mesmo, porque
pacientes humilhados, mal tratados, ignorados e empurrados para o consultório,
não precisam mais de tratamento, precisam sim de um milagre pois estão em um estado emocional tão
desfavorável que o médico terá que ser quase um santo. Encaminhar o paciente em
bom estado emocional e espiritual ao médico facilita em muito o diagnóstico e o
tratamento. Dá ao paciente uma das mais poderosas armas contra sua patologia, a
esperança e a confiança.
Fico extremamente agradecido por
esta mudança, está perfeito? Claro que não, ainda temos muito a evoluir,
especialmente no próprio processo interno dos PA´s, UPA´s, Hospitais e outros
centros médicos. Falo do carinho, atenção, acolhimento e valorização humana dos
que ali dedicam suas vidas, se doam em favor de muitos, os profissionais da
saúde, é visível que muitas coisas ainda não funcionam e que estes “Anjos”
precisam se virar.
Obrigado equipe do Hospital
Risoleta Neves, muito carinho e sucesso a vocês, que sejam sempre iluminados
para avançar nas ações para manter este hospital como um modelo de humanidade
em todos os aspectos, e, buscando a eficácia em cada elemento no entendimento
de que todos participam do processo
terapêutico, desde a recepção onde o paciente recebe o primeiro sorriso e
atenção que desperta sua auto estima e coloca seu sistema imunológico em
parceria com ele mesmo, até a palavra final dada no consultório médico. Os
Protagonistas deste show de realidade são vocês.
Meu carinho e gratidão a
todos vocês!
Múcio Morais
ESTE ARTIGO SERÁ INCORPORADO NAS PALESTRAS E WORKSHOPS DE HUMANIZAÇÃO NA SAÚDE, oferecido pelo Prof. Múcio Morais.