O Mundo virou uma verdadeira loucura. Uma neurose coletiva em busca do homem perfeito, e perfeição se torna um padrão baseado em comportamentos, conhecimentos, capacidades, habilidades, resultados, posturas e outras encrencas mais.
Pegamos atitudes simples e as teorizamos a ponto de sistematizar um simples “eu te amo”, somos escravos do status cultural, aquele negócio de tornar o simples em complexo e falar de arroz com feijão como se fosse caviar com champagne francesa. Quanta vaidade, quanta besteira.
E o que nós estamos construindo com isso?
Parece que nos esquecemos ou preferimos ignorar à bem da manutenção da pose, que vem vindo constantemente novos discípulos, aprendizes da vida que precisam entrar nessa roda da sobrevivência. Gerações com espaço para aprendizado, com anseio de saber o que fazer e para onde ir. Esses recebem toda essa carga de imposições tecno-sub-status-cultural (essa é uma das melhores palavras que já criei, que beleza) e, sob a égide dos filósofos modernistas, segue em frente o gado novo, marcado, feliz?
Pressionados, esmagados, conduzidos, despersonalizados, angustiados, ansiosos, aflitos, submissos, indecisos e gerados à partir do que se deve ser e não do que realmente se é podendo ser melhorado. O ser humano não pode mais, segundo o comportamento tecnológico atual, evoluir a partir de, mas construído a partir do e das. Estamos construindo “criadores” e não “mentores” esse é, a meu ver, um dos perigos mais sutis na formação das lideranças de RH e atividades afins.
Enquanto a vida vai pela estrada e as chamadas novas tecnologias comportamentais interferem poderosamente no dia a dia das pessoas dentro e fora das organizações, vamos assistindo a partida de atitudes que até pouco tempo eram consideradas comuns, coisas como pensar simples, o sim representando simplesmente sim e o não simplesmente o não. As variáveis de cada tomada de decisão são tantas e exige um conhecimento teórico tão grande que o óbvio se torna um exercício de experiência laboratorial humana, geradora de expertise.
Será mesmo que toda essa tecnologia comportamental está realmente ajudando o ser humano? Não seria um caminho mais prático desenvolver essa tecnologia à partir do ser humano e não simplesmente para ele? Seria um caminho inteligente focalizar nossos estudos nas experiências mais primitivas do comportamento humano? Essas são questões que, penso eu, podem contribuir para aqueles que definiram seu rumo no sentido da gestão de pessoas. Um alerta. Um susto, quem sabe.
AS EXPERIÊNCIAS SE CONFUNDEM
Ganhei um novo celular da galera de casa, um presente legal, cheio de funções, botões pra todo lado, luzes que mudam de cor, músicas, gostei. Confesso que fiquei com dificuldade de saber onde atender as chamadas, ah sim, também é telefone, dá pra ligar para outras pessoas, legal. Decidi que seria melhor ler o manual, nunca imaginei ter que ler um manual para usar um telefone, confesso que sou meio atrapalhado com tecnologias. Mas vamos lá: 106 páginas, fonte arial 6 (acho que o manual é destinado a jovens com excelente visão), termos como led, GSM, menu (esse eu sabia) e outros. Links para informações adicionais por toda parte, coisas como: Após essa operação aperte a tecla tal, vide pag. 55. Ou acesse no site. Após 40 minutos de verdadeira batalha entre vá a pag X e volte a pagina Y, além de um dicionário de Inglês que não me serviu muito, desisti. Preferi perguntar aos meus filhos qual o procedimento para fazer e receber ligações, afinal é pra isso que serve um telefone, ou não é?
UM SHOW DE HUMOR SEM GRAÇA
Descobri que eu sou um idiota, um neandertal recém chegado ao mundo cibernético. A turma deu tanta risada que vou até incluir uma parte disso em minhas palestras para jovens. O normal é ser complicado. É ter a mente pronta para decifrar o complexo. É olhar para emaranhados e saber as respostas por lógica sem nenhuma intuição.
Tudo que eu queria era uma página com indicações, partido de como ligar o aparelho, passando por algumas etapas operacionais ilustradas por bonequinhos e algumas setas. Nada além de uma página ilustrada e com linguagem simples. Será tão complicado isso? E o custo? E o nível de satisfação? E a praticidade? Duvido que a maioria das pessoas saibam como funcionam todas aquelas funções, então porque elas estão lá? Eu sei a resposta, você também, mas a resposta é tão ridícula quanto a questão.
GENTE VAMOS ACORDAR. O que realmente estamos construindo?
Quanta complexidade, quanta complicação. Vejo com urgência a instauração de um processo de simplificação da vida, precisamos disso antes que nossa qualidade como gente se perca irreversivelmente. E esse mundo sem gente parecendo com gente, seria terrível. Se você vive em ambientes complexos, competitivos e sofisticados demais certamente sabe do que estou falando.
Abraço a todos,
Múcio Morais
Palestras e Workshops em eventos de RH