Será verdade que o desejo sexual feminino diminui e que os
homens começam a ter dificuldades na ereção? A especialista em Medicina Sexual
e Antienvelhecimento Maria do Céu Santo responde aos grandes clichés que
assumimos como verdade sobre o sexo depois dos 50.
Ainda há muitas ideias feitas no que toca à vida sexual depois dos 50 anos. É inegável que a menopausa provoca alterações orgânicas, mas será que estas afetam a vida sexual? E será que as alterações da idade impactam da mesma forma homens e mulheres? «Quando surge a menopausa, geralmente entre os 45 e os 55 anos, os ovários deixam de produzir estrogênio e progesterona, e a mulher perde capacidade reprodutiva, mas não sexual.
No que toca aos homens, não existe um paralelo com a menopausa. O que há é uma diminuição gradual, mas não total, da produção de testosterona entre os 50 e os 60 anos. Uma pequena percentagem pode ter uma diminuição mais forte e apresentar sintomas», esclarece Maria do Céu Santo, médica ginecologista obstetra, especialista em Medicina Sexual e Antienvelhecimento, que responde às questões da Revista Prevenir acerca das principais ideias pré-concebidas sobre o sexo depois dos 50 anos e aponta estratégias que ajudam a melhorar a vida sexual do casal.
Começam a surgir as dificuldades na ereção
Parcialmente falso
«Se não houver disfunção, não há razão para não haver
ereção, mesmo com a diminuição da testosterona. Pode é demorar mais tempo a
surgir e ser mais difícil de manter. Por causa disso, alguns homens precisam de
mais estímulo. Daí o cliché de procurar mulheres mais novas nesta idade – já
que nos homens o estímulo é predominantemente visual.»
A especialista aconselha
Caso haja dificuldades na ereção masculina, «primeiro há que
despistar uma possível disfunção. Depois, podem usar-se técnicas que ajudam a
manter a ereção: pôr a mão em anel à volta da base do pênis, sem garrotar, pode
ajudar a manter o fluxo sanguíneo na zona. Pode ser o homem ou a mulher a
fazê-lo. Há também quem espace mais as relações sexuais e aposte na qualidade.
Até porque uma parceira nova pode garantir mais excitação, mas não
necessariamente melhor orgasmo. Nas relações duradouras, mesmo que demore mais,
o orgasmo pode ser mais intenso porque há menos insegurança. Isto vale para as
mulheres também».
O desejo sexual feminino diminui
Parcialmente verdadeiro
«Há várias fases da vida em que pode haver oscilações do
desejo, como após a maternidade e a menopausa. Em parte, devido às alterações
hormonais que podem originar sintomas, como diminuição de libido e secura
vaginal. A principal causa para a perda de desejo nesta altura é o que chamo
disfunção de vida. Se ando cansada, é irreal achar que vou ter disposição para
fazer amor depois das 22 horas.»
A especialista aconselha
«Mude alguns hábitos: em vez de chegar a casa e jantar,
façam amor primeiro e jantem depois. Ou façam amor de manhã. As mulheres tendem
a preferir a noite, por ter mais envolvência. Os homens, a manhã, porque têm um
pico de testosterona nesta hora. Às mulheres, digo que vale a pena ultrapassar
a “preguicite”, porque depois é fantástico. Obviamente têm de estar focadas no
seu prazer e isto é uma aprendizagem que se faz. O importante é que seja uma
prioridade. Para a secura vaginal, recomendo o uso de um hidratante para
tratamento e um lubrificante vaginal para a relação sexual. Deve ser à base de
água, se usarem preservativo.»
O corpo já não é tão sensual
Falso
«Em qualquer idade, nunca se está totalmente seguro com o
corpo que se tem. Ou é a barriga, ou as estrias, ou a celulite, ou a falta de
cabelo… A sensualidade não está só na beleza, mas sim na atitude. O homem, se
tiver dificuldade em ter ereção ou mantê-la, pensa que a excitação será mais
fácil com uma mulher mais nova porque a imagem pode ser mais estimulante. Claro
que na mulher, a beleza pode ser excitante, mas não é o fator número um.»
A especialista aconselha
«No que toca à vida sexual, é tudo uma questão de afeto e
atitude e de iluminação. Sim, a mulher deve continuar a cuidar-se, não para
parecer que tem 20 anos, mas sabendo que pode ter uma atitude de charme e
mais-valia que as miúdas não têm. Uma mulher de 60 anos hoje corresponde a uma
mulher de 50 de antigamente. Algo que pode ser relevante é ultrapassar os
desconfortos que a menopausa possa trazer, como os afrontamentos ou secura
vaginal, que podem gerar muita ansiedade e vir refletir-se nas relações íntimas
sob a forma de inibições. Há que procurar apoio médico.»
A mulher tem mais dificuldade em atingir o orgasmo
Parcialmente verdadeiro
«Atingir o orgasmo pode demorar mais tempo, principalmente
no caso das mulheres que não fazem compensação hormonal. O orgasmo é, em grande
medida, clitoriano. E, nesta fase, há uma atrofia e diminuição da enervação
desta zona do corpo, o que pode levar a alguma dessensibilização. Outra coisa
que pode ocorrer é um acumular de secreções no prepúcio do clitóris e este
ficar colado e menos sensível, dificultando o orgasmo.»
Tudo sobre como atingir o orgasmo feminino mais facilmente
SEXO
Missão: atingir o orgasmo feminino
A especialista aconselha
«O fato de o orgasmo levar mais tempo não tem de ser um
problema, mas cabe à mulher aprender a focar-se no seu prazer e orientar o
parceiro, seja na velocidade ou na precisão, evitando dizer “ai, é horrível”.
Se o clitóris estiver “preso” devido ao acumular de secreções, isto pode ser
resolvido em consultório facilmente com um Cotonete. A mulher também pode puxar
suavemente o clítoris para trás, aumentando a sensibilidade da área. Lubrificar
a vulva com hidratantes próprios também ajuda, sempre massajando bem para
aumentar a vascularização, estimular a circulação e contrariar a atrofia.»
A medicação rouba o desejo
Parcialmente verdadeiro
«Alguns medicamentos, como os antidepressivos e os
anti-hipertensores, podem ter efeitos negativos sobre a libido. Nestes últimos,
o efeito é mais marcado nos homens, porque a ereção ocorre por vasodilatação e
os anti-hipertensores atuam precisamente sobre a irrigação sanguínea. Já a
excitação das mulheres tem um mecanismo diferente (é por isso que o Viagra não
é eficaz no sexo feminino).»
A especialista aconselha
«No caso de, após a terapêutica referida, existir alteração
da libido, deve procurar o médico assistente para resolver o problema.»
Já não se tem a mesma energia
Parcialmente verdadeiro
«Pode haver mais cansaço. Na maior parte dos casos, as
pessoas ainda trabalham. Mas querer ter o mesmo estilo de vida aos 50 que se
tinha aos 20 é irreal. Por outro lado, o mundo mudou e isso reflete-se nas
hormonas. Na Idade Média, as mulheres casavam-se aos 12 e morriam aos 48. Hoje,
temos filhos aos 40 e a esperança média de vida está nos 82 anos…»
A especialista aconselha
«Em primeiro lugar, deve adaptar os horários de fazer amor.
Não escolher a meia-noite, mas, sim, quando se tem mais tempo e energia. Além
disso, deve adotar a postura do cisne e não a da tartaruga cansada, seja na
cama, num jantar ou no supermercado. A postura reflete uma atitude interna. Há
uma frase que devia ser proibida que é “no meu tempo…”, porque o nosso tempo é
aquele em que vivemos. Por isso, temos de nos manter atualizados. É mentira que
burro velho não aprende línguas. Aprende isso e muito mais.»
A flexibilidade diminui
Verdadeiro
«Sim, a flexibilidade, tal como a energia, pode diminuir se
a pessoa não se cuidar, mantendo-se ativa. Mas o sexo não é uma acrobacia e,
neste campo, a flexibilidade é secundária. Mais importante é a
disponibilidade.»
A especialista aconselha
Privilegiar os exercícios de alongamento, em detrimento dos exercícios de alto impacto, e tomar banho de imersão ajuda – o calor úmido ajuda à flexibilidade. Cuidado apenas se tiver varizes ou dificuldades em sair da banheira. Em vez das técnicas acrobáticas, deve apostar mais em massagens e outro tipo de demonstração de afetos. A sexualidade não é só penetração. Começa na cabeça: o principal fator é a criatividade e a fantasia; e isso não deve diminuir com a idade.Bárbara Bittencourt / Jornalista / Colaboração Dra. Maria do Céu Santo Médica ginecologista obstetra. Adaptado Prof. Múcio Morais.