Prof. Múcio Morais
Metáfora é uma figura de estilo (ou tropo linguístico), que consiste numa comparação entre dois elementos por meio de seus significados imagísticos, causando o efeito de atribuição "inesperada" ou improvável de significados de um termo a outro.
Didaticamente, pode-se
considerá-la como uma comparação que não usa conectivo (por exemplo,
"como"), mas que apresenta de forma literal uma equivalência apenas figurada. (Wikipédia)
Uma discussão sobre os métodos
capazes de levar o cliente (Paciente) do estado atual desejado estaria
incompleta se não oferecesse uma explicação sobre o uso da metáfora
terapêutica, uma técnica especial de contar histórias que propicia à pessoa
descobertas importantes, conscientes ou inconscientes, que gera novos
comportamentos produtivos.
Com o entendimento que o tempo
disponível no atendimento tem se tornado cada vez mais limitado, ainda assim é
de bom tom que médicos e equipe se proponham também a esta técnica;
A arte da metáfora terapêutica
foi ricamente desenvolvida por Milton H. Erickson, M.D., um especialista tanto
na construção quanto na enunciação de metáforas terapêuticas. Recomendo sua
leitura. Gostaria de oferecer aqui apenas os fundamentos mais elementares da
construção de metáforas, juntamente com alguns exemplos, para que cada um possa
entender o processo geral e começar a desenvolver sua própria habilidade.
Para ser eficaz, uma metáfora deve:
1. Ser isomorfa ao conteúdo do problema. Ser isomorfa é ter uma estrutura idêntica ou semelhante. Seguir à risca uma dieta é uma situação isomorfa a manter-se dentro de um orçamento – as duas têm componentes similares.
2. Oferecer uma experiência substitutiva na qual a pessoa tenha a oportunidade de operar a partir de um conjunto diferente de filtros, que lhe possibilite o acesso a escolhas antes desconhecidas.
3. Oferecer uma solução, ou conjunto de soluções, para a situação isomorfa, que possa ser generalizada para o problema, levando o cliente a fazer as mudanças adequadas.
4. Por se tratar de um método seguro e inofensivo de lidar com assuntos que as pessoas têm dificuldades em abordar, as metáforas podem ser extremamente eficazes em problemas cuja solução é difícil por outras técnicas.
As etapas básicas de construção de uma metáfora são:
1. Identificar completamente o problema.
2. Definir as partes estruturais do problema e as "personagens" adequadas.
3. Encontrar uma situação isomorfa. (David Gordon recomenda praticar com analogias, isto é, "Você sabe, a vida é como vinho: manejando bem ela fica melhor com a idade".
4. Oferecer uma solução lógica. Determinar o que seria útil descobrir e então encontrar contextos nos quais essas descobertas seriam evidentes.
5. Acomodar esta estrutura em uma história divertida, ou que disfarce a intenção (para evitar a resistência do cliente).
O caso que narro a seguir é um exemplo pertinente do uso da metáfora
para ajudar um cliente a alcançar uma mudança pessoal.
Uma mulher atraente chamada Marta
procurou aconselhamento. Queria ajuda para aprender a controlar seu
comportamento promíscuo. Era casada com um homem bom (sua descrição) e tinha
dois filhos adoráveis, mas mantinha relações extraconjugais quando e com quem
fosse possível. Queria parar com este comportamento. Utilizaram-se então os elementos da sua descrição, expostos a seguir, para criar uma metáfora
terapêutica. Como tantas mulheres atraentes hoje, Marta também se preocupava
com o excesso de peso (problema que ela não tinha), e assim foi usado este conteúdo
para que a metáfora aparentasse ser uma extensão natural da interação
terapêutica.
1. Descrição do problema
2. Metáfora terapêutica
3. A promiscuidade está fazendo Marta perder o marido e a autoestima.
4. Uma mulher a caminho da obesidade
5. Marta não resiste à tentação dos outros homens
6. Uma mulher que não consegue resistir a sobremesas e pratos tentadores quando come fora.
7. Marta acha mais excitante o sexo fora do casamento.
8. Esta mulher adora comer fora.
9. Marta está insatisfeita com suas relações sexuais conjugais.
10. Esta mulher mal toca na comida que faz em casa.
11. Cada experiência extra-conjugal gera mais culpa e aumenta a possibilidade de Marta perder o marido.
12. Cada vez que come fora a mulher fica mais gorda.
13. A culpa de Marta torna-se tão dolorosa que ela tem que fazer algo a esse respeito. Ela tem insônias etc.
14. A mulher gorda tem que tomar alguma providência quanto a seus hábitos. Ela não entra mais em nenhuma roupa.
15. Marta nunca desenvolveu comportamentos sexuais satisfatórios com o marido.
16. A mulher gorda nunca aprendeu a cozinhar bem para si mesma.
* Os Nomes de Médico/Paciente foram omitidos/modificados;
Cada um dos elementos da metáfora
construída até aqui é isomorfo (isto é, há uma correspondência estrita na
estrutura) ao problema apresentado. Eles acompanham o problema apresentado de
modo tal que ambos têm a mesma forma. O passo seguinte é passar do acompanhamento
do problema à busca de uma solução comportamental.
A reação desejada é que Marta
mude seu comportamento de modo a resolver seu problema. Assim, a partir da
mulher obesa, a história deve de algum modo propiciar uma mudança de
comportamento adequada, uma vez que metaforicamente a mulher obesa representa
Marta.
1. Solução
do problema
2. Solução
metafórica
3. Para
Marta aplicar sua energia no desenvolvimento de experiências sexuais
satisfatórias com o marido.
4. A
mulher dedicou-se a re-arrumar a cozinha. Começou a ler livros de receita, para
escolher pratos apetitosos, e começou a experimentar refeições saudáveis e
satisfatórias.
5. Para
Marta encontrar a satisfação necessária em casa.
6. Com
o tempo, mais rápido do que se imagina, ela descobriu que não havia nos
restaurantes nada comparável às suas refeições caseiras e perdeu a vontade de
empanturrar-se em outros lugares, satisfazendo-se em casa.
7. Para
Marta orgulhar-se de sua relação conjugal e encontrar satisfação sexual com o
marido.
8. Agora
esbelta, esta mulher outrora gorda orgulha-se muito de suas habilidades
culinárias, bem como da sua figura.
O Nome de médico/paciente foram
omitidos e trocados para preservar sua privacidade.
São esses os elementos de uma
metáfora terapêutica criada para suscitar um resultado específico. Para
garantir a eficácia desse processo de contar histórias, são utilizadas a
ancoragem e várias outras técnicas, verbais e não-verbais. Enquanto se relatava
essa história a Marta, procurou-se torná-la realmente interessante para que ela
se identificasse com o assunto. Ela então vivenciou as emoções provocadas pela
história, o que permitiu ancorar (sinestésica, visual e auditivamente) as
experiências internamente geradas para fazer a mudança. Utilizou-se também a
sobreposição para tornar a metáfora mais rica e atraente.
Bibliografia:
Soluções - Antídotos Práticos
para Problemas Sexuais e de Relacionamentos
Milton H. Erickson, M.D L
Leslie Cameron-Bandler -
Summus Editorial
PALESTRAS E WORKSHOPS VOLTADOS PARA HUMANIZAÇÃO NO ATENDIMENTO À SAÚDE, HUMANIZAÇÃO NO ESTUDO DA MEDICINA, HUMANIZAÇÃO NA SAÚDE.